Daúto Faquirá vive dias conturbados em Setúbal. O Vitória ocupa o 14ºposto, a um ponto da zona de despromoção e o conjunto vitoriano tarda em encontrar-se. O seu 4-2-3-1 não tem correspondido às exigências, a equipa nunca ganhou fora de portas e em casa já avolumou quanto derrotas em sete partidas. No ataque o saldo é revelador. Sete golos em treze encontros. Mora em Setúbal a equipa menos concretizadora da Liga Portuguesa.
Tendo como premissa inabalável, as competências técnico-tácticas, que provou num passado recente, possuir, Daúto tem-se esforçado por traduzir em campo as movimentações que desenha no papel. O Vitória espraia-se em campo com uma linha de quatro defensores à frente do renascido Bruno Vale ou de Pedro Alves. Janício e Cissokho, altos e fisicamente possantes procuram esticar o jogo da equipa pelas alas. Se o cabo-verdiano é hoje um jogador relativamente completo, Cissokho procura ainda fugir da timidez. Mostra alguma agressividade com bola e é certinho a fechar. No centro, Anderson trouxe mais velocidade ao eixo. Juntamente com Robson formam uma dupla de centrais credível que procura empurrar a equipa, forçando-a a jogar mais subida no terreno.
À frente dos centrais, na primeira fase de construção do jogo setubalense, a deficiente transição para o ataque compromete as etapas seguintes. A experiente dupla de pivots defensivos, formada por Sandro e Ricardo Chaves não possui aquele toque de bola que transmita segurança no passe ou no transporte, deixando o trio que actua à sua frente, desmembrado e desligado entre si. Sandro fecha bem, preenche bem os espaços mas é demasiado posicional. Por sua vez, Ricardo Chaves surge a seu lado, não trazendo algo que realmente complemente a identidade de Sandro. É mais vertical e procura “carrilar” o jogo até à linha seguinte, mas falta-lhe algo que não se lhe pode exigir. Pedir-lhe segurança e visão de jogo digna de um moderno pivot defensivo.
Mais à frente surge alguma criatividade. Bruno Gama com bola é o fantasista. Posicionalmente, o seu jogo flui da ala para o centro em repetidas diagonais. Não tem medo de ter bola e de errar. Sem bola perde-se nas deficientes transições defensivas que efectua, e deixa a sua faixa demasiado exposta. No flanco oposto tem surgido Elias. Mais voluntário e abnegado ao choque que Leandro Lima, menos poder de imprevisibilidade e capacidade de resolver no um para um. Mateus, o estratega pauta o jogo ofensivo. Tem bons pés e faz a equipa respirar quando lhe é concedido espaço. É porventura o único jogador da equipa capaz de ter bola, de segurar para esperar pelo apoio, de fazer crescer a equipa em campo, dando-lhe personalidade. Joga de cabeça levantada fazendo girar a equipa em seu redor.
Na frente, Daúto tem apostado em Laionel. Carente de opções que entendam as movimentações e a leitura de que vem de trás, Laionel tem sido o menos mau. Falta poder de fogo a este Vitória. Instinto fatal. Carrijo traz poder físico, segura bem a bola e impõe-se à marcação. Por outro lado é demasiado fixo para conectar a “ficha” do seu futebol à ligação que se encontra distante no meio campo. Saleiro não se impôs e a equipa está órfã de uma referência no ataque. Um mal que se estende a mais equipas na Liga.
O tempo passa e Daúto tenta retalhar a manta com as linhas que se tem cozido. Refazer o duplo pivot defensivo seria porventura uma opção, jogando apenas com um trinco, e fazendo recuar em campo Mateus para a primeira zona de construção, reformulando-o enquanto jogador, dando mais consistência à saída de bola do Vitória. O experiente Bruno Ribeiro poderia também trazer algo à equipa jogando por dentro no corredor esquerdo, dando condições a Cissokho, para que este desse mais profundidade ao seu flanco. Mas ninguém melhor que o treinador moçambicano para perceber as afinações tácticas que a equipa precisa.